A Cidade e as Serras

by Luis Cabral

Graças à encíclica papal, os problemas do ambiente voltaram a ser tema central no debate político e económico.

Uma dos “factos” frequentemente apregoados é a associação da poluição ao crescimento urbano: “as cidades são antros de poluição”, “focos de esbanjamento de recursos”, ouve-se com frequência. No entanto, o que esta perspectiva esconde é o facto de as cidades serem muito mais eficientes do que as zonas rurais no aproveitamento dos recursos naturais.

Não tenho conhecimento de dados para Portugal, mas nos Estados Unidos o consumo de água, electricidade, etc, é muito inferior nas zonas urbanas relativamente às zonas rurais. Mais: o “carbon footprint” (isto é, a taxa de emissão de CO2), um dos elementos chave no combate às alterações climáticas, é muito inferior nas zonas urbanas. Não é preciso pensar muito para compreender o que se passa: nas cidades as pessoas vivem em casas menores, utilizam mais os transportes públicos, etc.

Compreende-se que a visão idealista do homem em perfeita harmonia com a natureza esteja mais associada à imagem do campo do que à imagem da cidade. No entanto, números são números.

Não quero com isto negar o facto de que muitos dos problemas da sociedade actual — por exemplo, a pobreza extrema ou a exclusão social — são mais visíveis nas cidades. No entanto, a tese da urbanização como um problema ambiental deixa muito a desejar.